terça-feira, 11 de setembro de 2007

Intuição

Quem possui um blog, este espaço de voyeurismo pós-moderno tão rico e ao mesmo tempo tão pobre, sempre está em busca do próximo post; no meu caso, do próximo louquejar. É um sentimento interessante, de leve excitação e fugaz contentamento. Tem lá suas utilidades: apropriado para fazer passar mais rápida uma tarde de segunda-feira. Meu alter ego, porém, deseja mais e por isso pensa que cada post deveria ser uma canção daquelas de filosofia, mas não o é; até porque nem sempre se pode gritar poesia e bater o pé no chão.

Acredito que, para mim, que me proponho a transpor devaneios em palavras a tarefa é um pouco mais ingrata. Pois não só apenas os assuntos em si, mas como dividi-los de forma adequada para a realidade de um blog. O chá aqui servido não vem com o fundo da xícara em algum tubo pronto, com linguagem de videoclipe. Naturalmente, os textos ficam longos, o que diminui consideravelmente a possibilidade de leitura até o fim. Sim, o objetivo de transposição de pensamentos, por vezes confusos e complexos, em doses homeopáticas de chá, exige que se abandone, nem que seja brevemente, a pressa com a qual se está habituado nos dias de hoje.

O que me levou a pensar nisso é justamente um pensamento simples e intrigante, que sussurro aqui: um pensamento ocorre apenas quando quer, e não quando eu quero. É o que se encontra em Além do Bem e do Mal ou Prelúdio de uma Filosofia de Futuro, de Nietzsche, precisamente na página 32 (tradução de Márcio Pugliesi):

"Quando se fala da superstição dos lógicos não deixo nunca de insistir num pequeno fato que as pessoas que padecem desse mal não confessam senão através de imposição. É o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando 'eu' quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito 'eu' é determinante na conjugação do verbo 'pensar'. 'Algo' pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre 'eu', para dizê-lo em termos suaves, não é mais que uma hipótese, porém não, com certeza, uma certeza imediata."

Da primeira vez o que o li, causou-me surpresa e ao mesmo tempo apreensão. Quer dizer então que eu não penso, alguma coisa pensa? E que é impossível controlar meus pensamentos? Para alguns até é questão de sobrevivência que não se pense... De qualquer forma, o Cogito Ergo Sum de Descartes, e tudo que (ainda) representa na sociedade contemporânea, cai por terra com uma simples assertiva: não consigo predeterminar o que penso de forma a pensar exatamente aquilo que eu desejaria. Se alguém diz: não pensa em uma maça verde, a entidade que em nós gera aquilo que interpretamos como pensamento faz justamente o contrário! E pensa na tal maça verde! E depois fica com raiva, pois foi abduzido! Sim, este tipo de pensamento é enlouquecedor, pois diminui na essência a nossa auto-estima enquanto espécie.

No final, o canto que não silencia é mesmo onde principia a intuição? E suponho que não podemos determiná-la, em qualquer hipótese, mesmo que tentássemos com toda a nossa força. Se o homem conseguir entender suas limitações, ao invés de penso, cientificamente existo, ou ainda penso, mercadologicamente existo e parar de classificar em percentuais o que se convenciona chamar de utilização do cérebro, tentando em vão ser algo que não é, na tentativa inútil de resgatar a nossa suposta superioridade enquanto espécie, mais canções rimadas não brotariam espontaneamente de nossos pensamentos?

Namaste!

2 comentários:

Tiago Soldá disse...

Este post me lembra uma situação bem familiar... quando pequeno, eu não conseguia dormir, e pensava que, "pensando" em uma cama, eu dormiria. Invariavelmente, eu pensava no jogo de bola da tarde, na prova do dia seguinte, na vizinha que nunca me dava "oi"... mas, em absoluto pensava na cama, quentinha, fofinha, aconchegante que me faria dormir... quando pensava na cama, adivinhe? Estava sonhando!

Tem coisas que nossa mente não entende, porque nem a mente sabe se explicar...

PS: talvez a frase não faça nenhum sentido, mas é de minha autoria! :o)

bluebird disse...

O interessante é que as crianças estão no estado intuitivo em alto nível! Infelizmente são deturpadas e se tornam isso que somos como adultos.