domingo, 20 de julho de 2008

Considerações Matemáticas e Financeiras

Estava eu entretido dissecando todos os campos e instruções de um boleto bancário quando, por engano, efetuei o pagamento de uma conta antes de sua data de vencimento. Fiquei procurando no tal boleto se havia alguma referência a descontos a quem paga uma conta antes de seu vencimento. Sim, pois os encargos e sanções ao atraso são bem conhecidos, mas para adiantamentos, nada encontrei que pudesse me beneficiar.

Efetuei, certa fez, o pagamento de uma fatura de 10 reais no valor de $10,01, emprestando um centavo à organização para devolução futura. Pois no mês seguinte, como o meu empréstimo não foi detectado, recebi o boleto no valor de $10,00 e o paguei em $9,99, restituindo-me o centavo emprestado, sem cobrar nenhum tipo de juro por isso. Para minha surpresa, ao tentar modificar o contrato futuramente, não pude fazê-lo, pois me encontrava em inadimplência de $0,01!

E, ao pensar em todo este estado de coisas, lembrei-me de uma disciplina que é ministrada em cursos superiores com interesse específico a introduzir os conceitos básicos da matemática financeira. Um dos assuntos pertinentes atendia pelo pomposo nome o valor do dinheiro no tempo. Pois seja! Tal visão nos mostra, em síntese, que uma quantidade qualquer de dinheiro hoje valerá mais progressivamente à medida que o tempo desfila diante de nosso incrédulo olhar, embasbacado pelo absurdo do estar-vivo.

Ocorre que tal disciplina não ensina que a lógica funciona de forma um pouco diferente, de acordo com quem detém o chicote. Por exemplo, se eu emprestar para uma instituição financeira dois mil reais, ao longo de um mês e considerando uma aplicação financeira simples, obterei rendimentos em torno de 0,6%, que resultaria em $12,00. Com esse dinheiro, é possível almoçar em um restaurante de nível médio uma única vez. Já se a situação contrária ocorre, isto é, da instituição financeira emprestar-me tal quantia, no final do mês terei de pagá-la a título de juros a módica quantia que varia entre 6% e 9%. Considerando a média aritmética de 7,5% chega-se ao valor de $150,00! Ao invés de almoçar uma única vez, o cão-bancário pode fazê-lo por 12 vezes ao longo de um mês! É uma desproporção absurda que ajuda a aumentar os lucros estrambóticos de tais instituições impávido colossensses! Se se aplicar juros de cartão de crédito, cujo percentual aumenta para algo em torno de 12%, o número de almoços sobe para 20!

Quando alguém abdica de ganhar 0,6% do mercado legalizado e empresta dinheiro a juros para outrem é chamado de criminoso e rotulado de agiota. Sim, se todos fizessem isso, como as instituições bancárias manteriam seus astronômicos lucros e dessa forma alimentariam seus cães-acionistas? Meu alter ego acredita que guardar dinheiro embaixo do colchão é uma atitude revolucionária e pode salvar a humanidade de sua estupidez e ganância, além de ajudar na derrocada do modelo financeiro atual. Ao emprestar dinheiro a um semelhante, para não incorrer no crime de agiotagem, pode-se combinar o seguinte: ao final do mês, o devedor possui o compromisso de pagar alguns almoços para o credor, além da quantia emprestada. Dessa forma, ambos poderiam saborear o prazer ímpar da confraternização gastronômica, ao mesmo tempo em que eliminariam o indesejado cão-acionista do banquete.

Namaste!

terça-feira, 15 de julho de 2008

As Cotas da Ignorância

Estava eu navegando despreocupadamente na Grande Rede quando li uma notícia a respeito de uma decisão judicial, a qual negava o direito legítimo de um estudante freqüentar uma Universidade Pública, mesmo tendo sido aprovado e estando dentro da faixa de vagas disponibilizadas para o curso escolhido. A causa para a negativa era a implantação de cotas raciais, que reserva um percentual de vagas para sujeitos pertencentes a raça negra (ou próximo a isso). Tal medida visa a garantir um equilíbrio racial no Impávido Colosso, ao mesmo tempo que busca resgatar uma dívida histórica com os negros impávido-colossensses, em função do tempo em que foram subjugados como escravos pelo cruel homem branco.

A idéia de cotas pode, em primeira análise, parecer ser justa. Justa, bondosa e promotora de justiça social! Ao que me lembro das palavras do filósofo Nietzsche: "...justa e bondosa como são justos e bondosos grãozinhos de areia com grãozinhos de areia!". Na verdade, devaneia meu alter ego, a cota racial é uma atitude racista que parte do pressuposto que o negro é inferior intelectualmente ao branco, e por isso precisa ser protegido. Pois o pseudo-argumento de que, oriundos de família em geral pobres e sem possibilidade de competir igualitariamente, os negros teriam a oportunidade de ingressar na Universidade pela porta dos fundos, isto é, através do paliativo do uso de cotas. Na verdade, questiono-me a mim mesmo: e toda a sorte de pessoas não-negras e pobres, que também não tem a prerrogativa de preparação adequada para ingressar na Universidade Pública? Mais justo seria existir apenas a cota para pobreza, pois do contrário segrega-se perigosamente a sociedade em função da cor da pele de seus indivíduos. As melhores intenções em geral produzem os piores resultados e ajudam a aumentar os conflitos sociais de uma sociedade já deveras doente e decadente.

Outro ponto problemático de tal lei é a definição de quem é e quem não é negro. Ora, o Impávido Colosso é um agrupamento humano no qual a maioria da população é miscigenada e a detecção de raça e cor é realizada de forma auto-declarativa. Um casal formado por um tipo branco e outro negro tem dois filhos, um com a pele clara e outra com a pele escura. Ambos estão inseridos no mesmo contexto social. Aquele que tiver pele clara poderá gritar em alto e bom tom que também é negro, visto que um de seus pais o é? E nem por isso será considerado menos ou mais apto intelectualmente e poderia utilizar-se da prerrogativa de cotas raciais.

São por estas questões que desafiam a lógica que meu alter ego acredita que o melhor para os povos é a autopreservação: mantendo a sua identidade racial, também mantém-se a sua identidade cultural, já que um conceito está intimamente ligado ao outro. A miscigenação é positiva entre raças de culturas semelhantes, pois renova o sangue e revilaliza a raça, porém a miscigenação indiscrimida gera confusão e resulta na morte dos povos, suas culturas e identidades.

O que de fato os pseudo-entendidos no assunto deveriam pensar é em investir no aumento do número de vagas nas universidades públicas. Mas como fazê-lo se não há recursos? Pois seja, a desculpa de que não existem recursos para tal é facilmente combatido com a assertiva de que é fácil criar novas vagas sem grande esforço: bastaria que os alunos pagassem pelo ensino que hoje obtém gratuitamente. Não na proporção de uma mensalidade de universidade privada e não para todos, mas para aqueles que podem pagar. Um estudante cuja renda familiar é de R$ 10 mil/mês pode perfeitamente pagar R$ 500/mês como retribuição ao ensino que recebe. Alguém com renda inferior contribui com uma quantia menor, ou mesmo com trabalho voluntário. Esta é revolução que o ensino necessita para promover a verdadeira justiça social, e não a limitada e injusta visão de mundo que pretendem aqueles que apoiam as cotas raciais em universidades públicas.

Tal medida é correta e justa e deveria ser adoptada nas universidades impávido-colossenssem. Mas o que vejo é uma gritaria em torno da "universidade gratuita" e mesmo aqueles que poderiam pagar querem ter um ensino sem oferecer nenhuma retribuição à instituição que o formou. Ora, cada um pagar aquilo que pode, de acordo com sua renda familiar, é algo que geraria receita e serviria para, não apenas dignificar o salário dos professores, quanto para qualificar a infra-estrutura em geral, além de possibilitar um aumento significativo do número de vagas. Ao invés de debater sobre questões verdadeiras, a sociedade debate-se em torno de pseudo-questões como a esdrúxula cota racial implantada em algumas universidades.

Namaste!