quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Lost e a Humanidade Resgatada

"I died, too."
(Jack Shephard)

Estava eu a rever o derradeiro diálogo de Lost quando percebi que a humanidade da série fora resgatada em apenas três palavras de seu personagem principal. Em outro louquejar, divaguei que a série televisiva havia perdido o foco, apelando para viagens no tempo e transformando os personagens em super-heróis típicos do cinema estadunidense, perdendo, dessa forma, o caráter humanitário das primeiras temporadas. Pois bem: o final da série é algo digno de nota, pois resgatou esses deslizes recentes, lançando a si mesma para a posteridade como algo que merece ser revisto e discutido, pois inovou pela sua narrativa não-linear, pela complexidade de seus personagens e por um roteiro repleto de possibilidades e surpresas.

Muitos não entenderam ou aprovaram o final. Outros acharam que a série ficou com muitas perguntas em aberto. Pois seja: meu alter ego pergunta de onde vem essa necessidade humana de explicar tudo no final? A própria vida é algo sem explicação e que faz sofrer, não é fácil aceitar quando uma obra de ficção não explica como se explica a vida a uma criança de 3 anos... ver pontos de interrogação no ocaso de algo que deveria simplesmente entreter é algo que frustra. Além disso, a explicação para a realidade paralela criada na última temporada, onde os personagens não sabem que estão mortos e vivem de forma a construir uma vida que resolve os seus mais profundos conflitos é algo que, independente de crença no além-da-vida, resgatou o caráter humano de Lost. E tudo isso só ficou claro no derradeiro dialógo do personagem principal, Jack, com o seu pai. Assim como Jack, os telespectadores também não estavam entendendo o que estava a ocorrer. A racionalidade de Jack finalmente cedeu quando ele percebeu que estava morto e que precisava lembrar-se para poder esquecer (to remember and to... let go).

Os produtores de Lost responderam no dialógo final a principal questão proposta pela série: nada pode mudado, o que aconteceu, aconteceu. A possibilidade de viajar no tempo e poder, com isso, modificar o passado e até mesmo o futuro é uma fantasia humana que encontra respaldo quando se vive uma vida sofrida e sem a consciência de responsabilidade nas decisões que tomamos. Afinal, se uma ação resulta em algo nocivo, não bastaria voltar atrás e corrigir o equivoco? Tal idéia tem suas origens no conceito cristão de pecado: basta o arrependimento para libertar o pecador por seus atos. Não importa o quão grave tenha sido a sua atitude: o arrependimento, isto é, a culpa, é suficiente para que a viagem no tempo ocorra e as ações do passado sejam modificadas e corrigidas. Ao assumir a responsabilidade de seus atos, o ser humano desnudo aceita o absurdo existencial e torna-se senhor de suas ações e, principalmente, das conseqüências por seus atos. Dessa forma, eliminando o câncer cristão da culpa, aceita a existência em sua plenitude e deixa de viver uma vida de fantasia, na qual sentimentos contraditórios são uma constante.

Não é qualquer construção artística que mata duplamente o seu personagem principal na derradeira cena que terá aprovação do público. E nisso reside outro mérito de Lost: o de não criar um final feliz, no qual tudo se explica e todos são felizes para sempre... ao contrário, ao matar Jack na ilha e também na realidade paralela, os produtores passam a mensagem de que a vida é finita, tudo termina um dia, inclusive a própria vida e é preciso lidar com isso de forma madura e com responsabilidade. No final, a série tratava dos conflitos de pessoas, os mistérios da ilha eram um pano de fundo para mostrar a trajetória de cada personagem. Muitas vezes, o que se tem é exatamente o oposto: os conflitos individuais são pano de fundo para uma história misteriosa e fantasiosa. Lost termina como, quiçá, deveria a vida terminar: com muitas dúvidas em aberto, mas com a firme convicção de que as escolhas feitas em vida foram as melhores possíveis dentro das possbilidades que existiam e que aceitar esse fato e não tentar mudar o que se viveu é o que de melhor o ser humano pode buscar.

Namaste!

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Louquejares Relacionados

# Lost e a Humanidade
"
Estava eu a baixar um episódio da quinta temporada da série Lost quando, ao rever alguns episódios anteriores da famosa série televisiva estadunidense, um louquejar ocorreu-me: Lost perdeu a sua humanidade."

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Meditação que Transcende






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A Meditação que Transcende

Hoje não me preocupo com a previsão do tempo
Não vejo televisão
Não leio revistas, jornais e os tais.

Hoje não me preocupo em acordar no horário
Não fumo, não bebo
Não me visto, não trabalho.

Hoje as preocupações humanas são risíveis
Não me importo com a crise econômica
Não me importo com a violência
Não me importa o homem e o homem é desprezível.

Hoje não me importo em argumentar, avaliar ou julgar
Não me importo com o absurdo
Não me importo em fazer nada.

Hoje não como, não bebo e quase não respiro
Hoje não desejo, não quero, não sou
Hoje a minha mente está morta.

Hoje nada possuo e nada me possui
Hoje sou um espectador de mim mesmo
Hoje estou livre,
Hoje estou morto.

Alter Ego

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A Contra Mola que Resiste









Primavera nos Dentes


Quem tem consciência pra se ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera