
Pode-se considerar, como hipótese, que a existência débil de um carneiro seja pura e simplesmente servir ao tipo homem quando lhe for útil? Ou ainda servir de modelo para retratos de paisagens bucólicas? É interessante pensar na utilização da mesma lógica em relação ao próprio homem; afinal, o carneiro é uma metáfora para a submissão e ignorância humana. A utilidade do carneiro-homem não é a sua carne, tampouco a lã que não possui. Muito menos aquilo que a nossa espécie conquistou a duras penas: o seu pensar, o seu sentir, o seu questionar e, em última análise, a possibilidade de uma existência menos bestial. A sua utilidade reside justamente na servidão, como meio para a existência de outros animais-humanos, como porcos e cães. Se o carneiro tivesse consciência deste estado de coisas, o que ocorreria?!
Revolução é nome o nome dado a essa tentativa de mudança de estado de consciência, em geral por indivíduos afectados por ideais como igualdade, justiça e fraternidade... Porém, o carneiro não é carneiro à toa, e sua personalidade fraca e submissa talvez não suporte tal pressão e este prefira continuar no seu pequeno mundo encantado do pastar (ou seria pastalienar, algo como pastar com alienar?). Porque ser carneiro é viver confortavelmente! E morrer debilmente! E, talvez, no Paraíso receba as desculpas que lhe são tão merecidas... até lá, resta-lhe viver pastalienadamente.
Namaste!
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A um Carneiro Morto
Misericordiosíssímo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!
Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!
Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos — fontes de perdão — perdoaram!
Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
Se fosses Deus, no Dia do juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!
Augusto dos Anjos
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