E, à medida que mais objetos adquire, o ralo de seu escritório começa a feder por um problema estrutural de seu banheiro. No início o cheiro o desagrada, mas com o decorrer da história ele passa a tolerá-lo e por fim passa a gostá-lo de forma quase bestial, tal qual o tipo homem venera indicadores econômicos, bolsa de valores e crescimento econômico. Como se tais coisas em si tivessem algum valor e pudessem ajudar a elevar a condição animal do cruel tipo homem!

Por fim, uma menina que freqüentava seu escritório e vendia peças roubadas de sua casa para conseguir dinheiro para sustentar o seu vício, termina por atirar no anti-herói contemporâneo e, com isso, vingar-se das humilhações que passou nas vezes que ali esteve.
Ah, este é o final do filme, caro leitor! Não tive a intenção de revelá-lo, como também não tive a intenção de ocultá-lo! Eu e meu alter ego não nos importamos de saber intelectualmente o final de uma história, pois para nós isso não tira o brilho ou escuridão do momento a posteriori que se viverá. Na vida todos sabemos qual final teremos, mas nem por isso deixamos de vivê-la!Tal final trágico pode ser comparado como o desespero humano em nível demencial diante da sociedade que o sujeito está inserido (em muitos casos, excluído). Tal menina pode ser reconhecida como os mendigos, pedintes, flanenilhas e toda sorte de infelizes que assombram o homem ordinário no seu dia-a-dia. E muitos ainda se fazem perplexos quando recebem um tiro gratuito e terminam por perder a própria vida em assaltos tão comuns no Impávido Colosso! É que saindo de si e pensando na perspectiva do outro, esquecendo um pouco que ele é o inferno, deparar-se-á com alguém excluído e marginalizado pela sociedade, cujos objetos não pode comprar e, por isso, precisa roubá-los. Na verdade, devaneia meu alter ego, não é tanto pelo objeto em si, mas também pela vingança existencial por viver numa sociedade que o trata como igual, quando claramente não o é, e por julgar que a sua liberdade de nada vale se ele viver na miséria e em sofrimento constante.
Namaste!
____________________________________
O Cheiro do Ralo (2007)
» Direção: Heitor Dhalia
» Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli
» Gênero: Comédia
» Origem: Brasil
» Duração: 112 minutos

Fonte: Adoro Cinema
2 comentários:
Nossa, arrasou nas suas observações e interpretações do filme, você não me tinha dito isso tudo que pensou...
Que poesia sujinha e fedidinha, que bela e criativa história...
Muito legal também é o olho que ele compra, e que passa a ostentar como se fosse de seu avô que voltou da guerra, mais uma mostra das coisas que as pessoas se apropriam para serem reconhecidas e que não são, de fato, sua verdade... as máscaras que usamos para sermos aceitos. E que a fuder que é aquele olhinho... hehehe
Sim, meu alter ego teve este devaneio depois de algum tempo após assistir a película! O olho, que na verdade é do pai do sujeito, tem o seu ápice na cena em que, ao dizer que o seu pai morreu na guerra para um vendedor, acaba criando uma fantasia de uma situação fictícia com o próprio vendedor... A comemoração posterior, que coincide com o dia que seria o da festa de seu casamento, é também muito interessante.
Postar um comentário