terça-feira, 13 de maio de 2008

A Fila, O Circo e a Democracia

Num dia destes, entre o primeiro e o segundo cigarro do dia, fiquei estupefacto ao ouvir uma notícia dada por um repórter de uma rádio: uma fila enorme formou-se no Tribunal Regional Eleitoral de uma capital do Impávido Colosso, também conhecida como Capital Mundial da Carroça. É que era o último dia para regularização do título eleitoral e, como não podia deixar de ser, muitos impávido colossensses deixaram para a última hora para ficar quites com a Justiça Eleitoral e, assim, poder exercer o seu direito democrático de votar nas eleições vindouras.

Impávido-colossensses confraternizam em fila democrática

Mas qual não foi o meu espanto quando o repórter perguntou a um dos transeuntes que lá estavam o que exatamente estava fazendo por ali - se tirando o primeiro título ou regularizando - e a resposta foi: "estou aqui acompanhando o meu amigo". Pois seja! O brasileiro adora uma fila, pensei. É um momento ímpar de confraternização entre os pares, cuja alegria pelo burburinho que se forma praticamente anula o tédio pelo demora bestial no meio da calçada.

E, ao pensar neste estado de coisas, um louquejar me ocorreu: como a idéia de liberdade é tida no mais alto nível pela sociedade contemporânea e como tal idéia nefasta representa um engodo que ajuda a manter a sociedade que se propõe a ser igual a ser, justamente, a mais desigual de toda a história universal do cruel tipo homem. O que os profanadores não dizem é que nunca a diferença entre os que mais possuem para aqueles que quase nada possuem foi tão grande. E, ainda assim, muitos louvam tal sociedade e tal sistema democrático que transforma um direito em um dever e diz que todos são iguais perante a lei. Na verdade, devaneia meu alter ego, o tipo homem é desigual por natureza, seja em âmbito cultural, psicológico e, especialmente, intelectual.

As eleições no Impávido Colosso são um circo, com direito a muitos palhaços e animais de toda ordem. Até a obrigatoriedade do ato de votar torna-se uma aberração para o próprio conceito democrático eletivo. E se eu julgar que não estou adequadamente preparado para votar em alguém, e quiser me ausentar de tal processo?! E se pensar em quantos indivíduos sem qualquer preparo intelectual para discernir entre a ideologia de um partido de um candidato ou outro?! Questões que não são tratadas como deveriam e, por isso, tornam o processo eleitoral tupiniquim digno de riso e lamento.

A verdadeira democracia encontrava-se na Grécia Antiga, berço da civilização ocidental, na qual os iguais eram tratados como iguais, e os desiguais, como desiguais. Nada mais justo, nada mais recto. Este conceito se confunde com o ideal aristocrático de sociedade, no qual indivíduos melhor preparados assumem maduramente o comando das decisões e por isso mesmo prestam a assistência necessária aos desafortunados e doentes de toda ordem; para lhes proteger e também a si mesmos. Porque, em verdade, quando se trata um desigual como um igual, dizendo-lhe que tem poder de decisão, quando claramente não tem nenhum, comete-se o ato mais covarde e que gera a mais profunda injustiça entre os homens.

Tais ideais não são bem-vistos no democrática sociedade contemporânea, a qual - com o auxílio da pseudo-ideologia estadunidense - tenta perpetuar-se por todo o mundo, não respeitando culturas diferentes, nem tampouco pensamentos opostos sobre a vida e o estar-vivo. Eu, influenciado pelo meu alter ego, há muitos anos que simplesmente anulo totalmente o meu voto e me rio daqueles que acreditam que este sistema de tal forma possa mudar o status quo, que hoje trata desiguais como iguais, e gera miséria, lixo e desigualdade em proporção jamais vista.

Namaste!

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