Um novo ano se inicia, ao menos para aqueles cujo calendário gregoriano é o oficial, e se renovam as esperanças de um mundo melhor, com mais paz, amor, justiça e felicidade. Certamente o nobre leitor já ouviu e leu diversas vezes tais palavras e, assim como meu alter ego, está cansado desta pasmaceira fugaz. Acredito que o tipo homem necessite destes votos para suportar a estupidez de sua existência. E a divisão do tempo em anos, essa interpretação conveniente do estar-vivo, possibilita-nos a cada ano renovar as esperanças de um mundo melhor. Ações efectivas para isso, no entanto, são muito poucas. O que conta é a intenção, diz-me com toda propriedade aquele que profana repetidamente tais votos.
Este espaço de voyeurismo pós-moderno também quer felicitar - à sua maneira - o seu venerável leitor. Os louquejares não estão ocorrendo com tanta freqüência, em especial devido ao calor excessivo que o Impávido Colosso possui por estes dias. Não há vida inteligente quando o termômetro ultrapassa os 30º! E meu alter ego pede trégua e limita-se a não-pensar sob tais circunstâncias...
De qualquer forma, nada melhor que citar o melhor poema do mestre Augusto dos Anjos: Versos Íntimos. Nele, a própria realidade é tão real e tão ácida que funciona como um soco no estômago para todos aqueles que acreditam nas tais baboseiras de renovação a cada novo ano... Ao pensar comigo mesmo, eu me surpreendo ao perceber que tal poesia ainda não conste na íntegra neste chá; apesar de aparecer em diversos momentos, em fragmentos em alguns posts e até na mensagem intro que se pode ler ao topo deste blog.
Namaste!
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Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
sábado, 5 de janeiro de 2008
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