Estava eu a abastecer meu veículo num destes repositórios de combustível, que no Impávido Colosso representam uma fonte de tributação que beira ao infinito, quando uma situação inusitada ocorreu: uma carroça adentrou ao ambiente, e com toda a pompa possível, parou ao lado do calibrador e, com toda a calma do mundo, o seu condutor desceu e calibrou os seus pneumáticos. Esta é uma cena comum numa grande capital do Impávido Colosso, também conhecida como Capital Mundial da Carroça.
Para o motorista comum, as carroças constituem um estorvo e a sua simples presença nas ruas é motivo de raiva e indignação. No entanto, ao sair de si e observar a questão no distanciamento necessário para poder formar um juízo com alguma precisão, louquejei que uma solução para o mundo pós-moderno está justamente no maior uso de carroças, em detrimento ao uso de veículos automotivos. E, nesse sentido, a Capital da Carroça está na vanguarda do desenvolvimento humano e sobre-humano do tipo homem.
Como!? Substituir os modernos veículos por carroças?! Muitas são as vantagens, devaneio eu: ajudaria a resolver alguns graves problemas mundiais, como a disputa por petróleo, que tantas guerras por território têm gerado; ajudaria, e muito, a reduzir a poluição planetária; sem contar que diminuiria drasticamente a quantidade de acidentes graves, que vitimam a todo ano milhares de impávidos colossenses. Aliás, vejo tantas campanhas da mídia tradicional (aquela cujo pensamento e disseminação assemelha-se a de um cavalo...) na tentativa de diminuir o que se chama violência no trânsito, porém, em nenhuma delas, a carroça é sugerida como solução para os problemas de tráfego cotidiano. E por quê isso? Há muitos interesses envolvidos... Imagina, caro leitor, se o homo sapiens sapiens simplesmente deixasse de comprar seus potentes veículos poluidores e assassinos e passasse a, convenientemente, experimentar o passeio agradável e ecologicamente correto de uma carroça? Isso não representaria uma revolução na maneira como vemos o mundo, os valores e o próprio estar-vivo?
Porque a pressa é um câncer e ir rápido de lá para cá, numa obsessão inútil de chegar primeiro, e com isso ganhar tempo, sabe-se lá para quê, é um mal que aflige o tipo homem neste início de século XXI. O uso da carroça teria o benefício terapêutico da lentidão, que ajudaria o tipo homem a ganhar perspectiva e inclusive confraternizar de modo mais efectivo com seus pares. Meu alter ego me sugere tais devaneios com alguma freqüência; eu, porém, sou covarde e prefiro o conforto do meu veículo, e sua rapidez de deslocamento. O que ocorreria, pois, se o alter ego de vários representantes do tipo homem louquejassem ao mesmo tempo a tal ponto de dominar em sua totalidade o seu ego e, com isso, subjugassem o automóvel em priorização da carroça?
Namaste!
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2 comentários:
Então.. ao ler teu texto, cheguei a pensar em como seria eu andar de carroça... em dois segundos de pensamento, um buzão da Central me encheu no meio!
Farei como você... vou esperar todos terem a idéia ao mesmo tempo. Por enquanto, ainda é perigoso...
Apesar de discordar da solução apresentada, a carroça serve quase como uma metáfora, para o problema da evolução e tecnologia.
"A tecnologia veio para resolver problemas que não existiam antes da mesma aparecer!"
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