sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Lost e a Humanidade

Estava eu a baixar um episódio da quinta temporada da série Lost quando, ao rever alguns episódios anteriores da famosa série televisiva estadunidense, um louquejar ocorreu-me: Lost perdeu a sua humanidade. E, em função disso, boa parte do meu interesse por ela também estava por perder-se. Afinal, os escritores optaram por tornar os personagens super-heróis à medida que a série está a avançar, esquecendo-se do seu caráter humano.

Lost, uma série cujo tema é por si só interessante e envolvente: um grupo de indivíduos cujo avião cai numa ilha misteriosa busca sobrevivência, enfrentando os diversos perigosos que tal ilha representa. Esse foi o elemento que norteou a série em suas duas primeiras temporadas. Nas seguintes, há uma tendência de desumanização dos personagens, criando um mundo mágico aonde tudo é possível, inclusive apelando para viagens no tempo, de modo a tornar a série mais fantasiosa e apelativa que verdadeira.

Ora, não há nada de glamoroso em encontrar-se perdido numa ilha deserta. Qualquer ser humano ao se ver em tal situação enfrentaria enormes dificuldades em sobreviver num ambiente inóspito. Muitos sucumbiriam em poucas semanas. Todo animal fora de seu habitat natural tem a tendência em sucumbir. Essa é uma realidade aceitável. A humanização dos personagens passa necessariamente pelo sofrimento constante de estar-se privado de uma vida civilizada. Em Lost, ao contrário, todos exibem um jeito blasé de ser que é incompatível com a situação que enfrentam: tornam-se mestres em manipular armas de fogo, sobrevivem dias inteiros sem alimentar-se adequadamente, dormem em qualquer lugar, caminham quilômetros tranqüilamente e raramente adoecem. Sem contar que alguns homens conseguem tempo e meios para aparar sua barba e cabelo perfeitamente e as mulheres, para tratar de sua aparência de forma semelhante quando estavam em seu habitat natural.

Ao experimentar ficar algumas semanas preso numa ilha deserta, qualquer ser humano desesperar-se-ia, sentindo os mais profundos sentimentos de medo, de dor e de solidão. Esse é o elemento humano que a série perdeu, tornando seus personagens super-heróis superficiais que tudo podem e nada têm medo. A exploração do drama psicológico de indivíduos perdidos tornaria a série muito mais interessante e mais próxima à realidade do indivíduo ordinário que lhe assiste. Lost tem seus próprios méritos, em especial pela forma ímpar de construção da sua narrativa e consegue salvar-se num oceano de besteiróis típicos do cinema estadunidense. No entanto, poderia transcender a si mesma não se tornando previsível como está a ocorrer. Perdidos estão os escritores e produtores da série, que esqueceram do caráter humano que foi justamente o que levou ao sucesso da mesma ao grande público.

Namaste!