A noção do que seja trabalho ainda está intimamente ligada ao conceito industrial do início do século XX. Um ambiente no qual se deve deixar do lado de fora as emoções, o riso, enfim, tudo aquilo que diz respeito ao prazer individual. Quantas vezes se ri num ambiente profissional? Quantas vezes saímos no meio do expediente, à tarde, para passear porque o dia está bonito demais para ficar trancado num ambiente onde não há vida? Tal postura seria um absurdo para os macaquinhos tomadores de café e babadores de barriga cheia após o almoço!
Expressões sérias e preocupadas, como se não houvesse nada além na vida do que satisfazer aos interesses de cães imundos e ajudá-los a aumentar seus lucros, são um indicativo de doença em estado avançado. Para muitos o teatro se faz necessário para representar que de fato estão preocupados com o que estão a fazer (quando, muitas vezes, estão a representar).
Não é por acaso que a chamada hora feliz (happy hour) é o momento de tempo imediatamente após o término do expediente: a felicidade reside em não estar no ambiente de trabalho! E por quê isso ocorre? Por quê ao gozar férias o tipo homem não raro viaja alucinadamente buscando conhecer tudo e todos, fazendo roteiros milimetricamente programados, com o objetivo de aproveitar ao máximo o medíocre percentual de menos de 10% de tempo realmente livre que a empresa lhe oferece anualmente (e freqüentemente apenas por imposição da lei)?
O ambiente de trabalho é concebido para que o sujeito não tenha prazer. Trabalho e diversão são, em geral, segundo o ideal de Ford, coisas que não se misturam: para tudo há o tempo certo, assim urra a besta industrial. O conceito de trabalho é semelhante ao conceito de culpa intimamente ligado ao estado doentil christão: o prazer está sempre no porvir, é necessário sofrer antes para obter o deleite posterior. Ora, tal visão trata-se da velha forma de dominação pela negação do prazer, coisa que os christãos conhecem tão bem.
Meu alter ego devaneia que um escritório ideal é aquele em que os símbolos da Sociedade Industrial seriam abolidos, como o cartão ponto, o controle de horas e, especialmente, a subserviência. Ao invés disso, a desconstrução do ideal de tempo e de controle de horas, sendo o indivíduo (e não funcionário - aquele que executa uma função) o senhor de suas ações, comprometido apenas em auxiliar na busca dos objetivos da empresa, ao mesmo tempo em que também é responsável pela definição de tais objetivos, dentro de sua visão global de mundo. Um indivíduo pleno, pensante e alegre, cujos interesses pessoais, profissionais e socias se confundem de tal sorte que a fronteira entre trabalho e prazer deixaria de existir...
Até tal realidade torna-se real, serão necessárias muitas horas felizes para compensar a quantidade absurda de horas infelizes que o medíocre tipo homem desperdiça diariamente, num lento e gradual suicídio.
Namaste!
Nenhum comentário:
Postar um comentário