terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Teatro Corporativo

Estava eu a observar a construção de um prédio localizado num centro comercial de uma capital Impávido Colossensse quando ao meu lado passou em alta velocidade um trabalhador de escritório. Tal pressa ocorre pois precisava concluir uma tarefa o quanto antes, imaginei. Foi então que comecei a observar mais atentamente o comportamento do tipo homem a trabalhar em escritórios dos mais variados tipos e percebi o quão intensa é a sua atuação como ator e o seu sofrimento.

A noção do que seja trabalho ainda está intimamente ligada ao conceito industrial do início do século XX. Um ambiente no qual se deve deixar do lado de fora as emoções, o riso, enfim, tudo aquilo que diz respeito ao prazer individual. Quantas vezes se ri num ambiente profissional? Quantas vezes saímos no meio do expediente, à tarde, para passear porque o dia está bonito demais para ficar trancado num ambiente onde não há vida? Tal postura seria um absurdo para os macaquinhos tomadores de café e babadores de barriga cheia após o almoço!

Expressões sérias e preocupadas, como se não houvesse nada além na vida do que satisfazer aos interesses de cães imundos e ajudá-los a aumentar seus lucros, são um indicativo de doença em estado avançado. Para muitos o teatro se faz necessário para representar que de fato estão preocupados com o que estão a fazer (quando, muitas vezes, estão a representar).

Não é por acaso que a chamada hora feliz (happy hour) é o momento de tempo imediatamente após o término do expediente: a felicidade reside em não estar no ambiente de trabalho! E por quê isso ocorre? Por quê ao gozar férias o tipo homem não raro viaja alucinadamente buscando conhecer tudo e todos, fazendo roteiros milimetricamente programados, com o objetivo de aproveitar ao máximo o medíocre percentual de menos de 10% de tempo realmente livre que a empresa lhe oferece anualmente (e freqüentemente apenas por imposição da lei)?

O ambiente de trabalho é concebido para que o sujeito não tenha prazer. Trabalho e diversão são, em geral, segundo o ideal de Ford, coisas que não se misturam: para tudo há o tempo certo, assim urra a besta industrial. O conceito de trabalho é semelhante ao conceito de culpa intimamente ligado ao estado doentil christão: o prazer está sempre no porvir, é necessário sofrer antes para obter o deleite posterior. Ora, tal visão trata-se da velha forma de dominação pela negação do prazer, coisa que os christãos conhecem tão bem.

Meu alter ego devaneia que um escritório ideal é aquele em que os símbolos da Sociedade Industrial seriam abolidos, como o cartão ponto, o controle de horas e, especialmente, a subserviência. Ao invés disso, a desconstrução do ideal de tempo e de controle de horas, sendo o indivíduo (e não funcionário - aquele que executa uma função) o senhor de suas ações, comprometido apenas em auxiliar na busca dos objetivos da empresa, ao mesmo tempo em que também é responsável pela definição de tais objetivos, dentro de sua visão global de mundo. Um indivíduo pleno, pensante e alegre, cujos interesses pessoais, profissionais e socias se confundem de tal sorte que a fronteira entre trabalho e prazer deixaria de existir...

Até tal realidade torna-se real, serão necessárias muitas horas felizes para compensar a quantidade absurda de horas infelizes que o medíocre tipo homem desperdiça diariamente, num lento e gradual suicídio.

Namaste!

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