
Meu alter ego pensou em quantos terremotos seriam necessários para mudar significativamente todo o estado de coisas tipicamente tupiniquim, que perdura já há mais de 500 anos! A destruição como condição para a construção, eis uma fórmula simples para se pensar a respeito da condição evolutiva do homo sapiens sapiens.
E, cansando de escutar coisas sobre a realidade do cruel tipo homem, mudei a estação do rádio e deparei-me com um clássico do rock progressivo: Time, do Pink Floyd. Pareceu-me uma ótima canção para aquele momento e passei a ouvi-la e deixei-me envolver pela música, pensando comigo mesmo: o momento a partir do término dos relógios a gritar abruptamente e início do som de batimentos cardíacos, devaneia meu alter ego, é onde encerra o desespero humano aprisionado pela interpretação de tempo que construímos, iniciando-se um momento reflexivo a respeito dos valores próprios que tal interpretação, continuamente falsa, ocasiona na vida ordinária que vive o tipo homem.
Com o fôlego mais curto e a cada dia mais próximo da morte: eis o pensamento de quem fica paralisado diante da percepção do tempo e da nossa incapacidade de alterar este estado de coisas. Por isso, meu alter ego inveja os cachorros, já que eles não negaram a sua condição animal e, ao contrário, elevaram-na a níveis existenciais mais toleráveis. A percepção do presente, livre de passado e futuro, é o único tempo que de fato existe. Mas a sensação que os anos ficam mais curtos, e nunca há tempo sobrando, é a causa do mais profundo sofrimento humano. Por isso, um pensamento de repetição de tudo que há significaria um suicídio para a maioria dos mortais, visto que pensam que só poderia existir felicidade no além-vida.

Namaste!