E, à medida que mais objetos adquire, o ralo de seu escritório começa a feder por um problema estrutural de seu banheiro. No início o cheiro o desagrada, mas com o decorrer da história ele passa a tolerá-lo e por fim passa a gostá-lo de forma quase bestial, tal qual o tipo homem venera indicadores econômicos, bolsa de valores e crescimento econômico. Como se tais coisas em si tivessem algum valor e pudessem ajudar a elevar a condição animal do cruel tipo homem!
No meio deste estado fétido de coisas, porém, havia uma esperança de felicidade em algo que ele não podia, aparentemente, comprar: o corpo de uma garçonete cuja lanchonete freqüentava regularmente. Não por acaso, a bunda de tal mulher torna-se obsessão para o sujeito, que com isso consegue ver a beleza na sujeira, pois tais coisas estão próximas em tal região. Neste ponto, estabelece-se uma relação entre os dois, cujo progresso depende de uma mudança de percepção do sujeito em relação aos seus próprios valores do estar-vivo. Mudança esta que é deveras difícil para o tipo homem perceber e aceitar.
Por fim, uma menina que freqüentava seu escritório e vendia peças roubadas de sua casa para conseguir dinheiro para sustentar o seu vício, termina por atirar no anti-herói contemporâneo e, com isso, vingar-se das humilhações que passou nas vezes que ali esteve.
Ah, este é o final do filme, caro leitor! Não tive a intenção de revelá-lo, como também não tive a intenção de ocultá-lo! Eu e meu alter ego não nos importamos de saber intelectualmente o final de uma história, pois para nós isso não tira o brilho ou escuridão do momento a posteriori que se viverá. Na vida todos sabemos qual final teremos, mas nem por isso deixamos de vivê-la!Tal final trágico pode ser comparado como o desespero humano em nível demencial diante da sociedade que o sujeito está inserido (em muitos casos, excluído). Tal menina pode ser reconhecida como os mendigos, pedintes, flanenilhas e toda sorte de infelizes que assombram o homem ordinário no seu dia-a-dia. E muitos ainda se fazem perplexos quando recebem um tiro gratuito e terminam por perder a própria vida em assaltos tão comuns no Impávido Colosso! É que saindo de si e pensando na perspectiva do outro, esquecendo um pouco que ele é o inferno, deparar-se-á com alguém excluído e marginalizado pela sociedade, cujos objetos não pode comprar e, por isso, precisa roubá-los. Na verdade, devaneia meu alter ego, não é tanto pelo objeto em si, mas também pela vingança existencial por viver numa sociedade que o trata como igual, quando claramente não o é, e por julgar que a sua liberdade de nada vale se ele viver na miséria e em sofrimento constante.
Namaste!
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O Cheiro do Ralo (2007)
» Direção: Heitor Dhalia
» Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli
» Gênero: Comédia
» Origem: Brasil
» Duração: 112 minutos
» Sinopse: O dono de uma loja que vende objetos usados se vê em apuros após ter que se relacionar com uma de suas clientes, que julgava estar sob seu controle. Dirigido por Heitor Dhalia (Nina) e com Selton Mello no elenco.
Fonte: Adoro Cinema
2 comentários:
Nossa, arrasou nas suas observações e interpretações do filme, você não me tinha dito isso tudo que pensou...
Que poesia sujinha e fedidinha, que bela e criativa história...
Muito legal também é o olho que ele compra, e que passa a ostentar como se fosse de seu avô que voltou da guerra, mais uma mostra das coisas que as pessoas se apropriam para serem reconhecidas e que não são, de fato, sua verdade... as máscaras que usamos para sermos aceitos. E que a fuder que é aquele olhinho... hehehe
Sim, meu alter ego teve este devaneio depois de algum tempo após assistir a película! O olho, que na verdade é do pai do sujeito, tem o seu ápice na cena em que, ao dizer que o seu pai morreu na guerra para um vendedor, acaba criando uma fantasia de uma situação fictícia com o próprio vendedor... A comemoração posterior, que coincide com o dia que seria o da festa de seu casamento, é também muito interessante.
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