
Por que o tipo homem trabalha, hoje, da mesma forma como trabalhava há 50 anos, se houve uma drástica mudança nos instrumentos disponíveis para a realização de tarefas, e o esforço repetitivo é realizado, em grande parte, por máquinas? Por quê, após aparente triunfo tecnológico, não me é possível fazer simplesmente aquilo que eu desejar e que, por extensão, me proporcione prazer?
Suponho que temos uma grande dificuldade em aceitar o prazer como justificativa fundamental para a existência humana. Talvez seja a herança de uma (des)cultura cristã de séculos de estupidez e contra-senso ao terreno: porque, em verdade, foi contra o prazer e a vontade que as religiões, entre elas inclusive o budismo num nível mais intelectual, e o cristianismo, num nível mais boçal, envenenaram o coração do homem a ponto tal de sequer conseguir desejar ter prazer! É mais fácil dominar quando não há vontade; é mais fácil dominar o inimigo quando está fraco e entediado. E esta é a fórmula humana para a desgraça e mentiras que foram contadas ao longo de séculos por sujeitos entorpecidos contra a vida e tudo que é mundano.
Tudo deveria se justificar pelo prazer, seja ele físico, emocional, intelectual e inclusive sexual. Tudo que, ao ser feito, proporcione uma sensação de bem-estar ímpar a tal ponto que a vontade em reviver tais momentos seja tão forte que forneça a justificativa existencial para um possível eterno retornar.
E, ao pensar neste estado de coisas, lembrei-me das idéias do sociólogo Domenico De Masi, que se tornou conhecido mundialmente ao propor o que ele chamou de ócio criativo, que é uma maneira de encarar o trabalho e o prazer como coisas tão próximas de si que o sujeito não saiba mais diferenciar interesses pessoais de interesses profissionais. Tal situação só é possível com a substituição do controle pela motivação dos funcionários. Segundo o próprio De Masi, poucas, ou raras empresas, conseguem aderir ao ideal de criatividade através do ócio. Uma entrevista interessante, na qual De Masi expõe suas idéias, pode ser encontrada aqui.
Sinto-me frustrado por viver numa época com todas as possibilidades imagináveis disponíveis e uma forma retrograda de se pensar o trabalho. Mecanismos de controle como cartão ponto, carga horária e banco de horas certamente não são compatíveis com o ideal do ócio criativo. Porque, ao que me parece, é impossível pré-determinar logicamente um processo criativo que é ilógico por definição e, não raro, anárquico.

Quisera eu que as idéias próprias e instigantes fossem louvadas e celebradas!
Quisera eu que a postura crítica e autocrítica fosse condição sine que non, tanto nas pequenas, médias e grandes empresas!
Quisera eu que para fazer parte do clube da gravata não fosse necessário, após um cumprimento com sorriso falso, esfaquear o outro pelas costas!
Quisera eu que a motivação subjugasse o controle!
Quisera eu poder trabalhar exatamente da mesma maneira como brincava na mais longínqua infância! E que o ideal lúdico pudesse transcender aos pseudo-valores ordinários e mesquinhos, cuja impregnação grita e fede no ignorante tipo homem e sua bestial noção utilitarista do estar-vivo.
Namaste!