Num dia destes, na hora em que o sol se põe, estava eu a navegar despreocupadamente na Grande Rede, quando salta-me ao ecrã um blog co-irmão a este criado pelo meu alter ego. Chama-se Chá das Cinco, um blog anti-stress. E ainda com bolinhos! Recomendo-o a todos que desejam tomar um chá com calma, tranqüilidade e sobretudo, sem muito louquejar ou devanear.
Não se trata de ironia, ao contrário: sorte daqueles cujo ocaso ainda não iniciou! São as bolhas de sabão, na melhor acepção da expressão, voejando conforme o vento lhes sugere; tão necessárias a produzir beleza e inocência ao mundo decadente que vivemos.
Ao que me lembrei das palavras de Zarathustra em Do Ler e Escrever: Ver voejar essas alminhas loucas, leves e graciosas induz Zaratustra a chorar e a cantar. Gosto desta passagem. Faz lembrar que às vezes é necessário esquecer um pouco do abismo existencial e, ao que se costuma deduzir como uma simplificação do nosso ocaso, viver sem pensar. A felicidade reside justamente em não pensar... e o que de melhor os cachorros possuem? A arte de não pensar!
E em seqüência Zarathustra divaga: só acreditaria num deus que soubesse dançar e também que, ao ver o seu diabo, achou-o sério, métodico, profundo e solene: a causa pela qual todas as coisas caem. A nossa felicidade, como suposição, não residiria, então, justamente na negação, talvez inconsciente, da interpretação do que inventamos para nós como espécie? Nem que seja por dois míseros segundos! A arte do esquecimento: por isso temos de morrer; caso contrario, nossas memórias nos sufocariam.
Por isso os cachorros são invejados!
Por isso o Diabo é a nossa consciência a pensar, a borbulhar... a ver abismos!
E somente um Deus que aniquilasse o espírito de gravidade poderia ser acreditado.
Mas, em verdade, o animal homem é o único tipo que precisa acreditar. Por que precisamos acreditar? E, como se sabe, o cachorro não precisa adorar deuses por ele inventados para justificar o injustificável...
Namaste!
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Da Musicalidade do Leão

Um dos conjuntos que possui virtuosismo musical extraordinário chama-se Pink Floyd. Aprecio suas longas músicas, como Shine On You Crazy Diamond, Time, Echoes, Dogs etc. Músicas estas que não tocariam em rádios comerciais porque são longas demais. Como se existisse um dedo ordenador a instituir os três minutos como tempo ideal para uma canção. De fato, quem hoje tem tempo para ouvir os 17"04' de Dogs sem ficar com aquela doente sensação de perda de tempo?

Neste mundo animal, para sacudir e mudar este estado de coisas, fiquei pensando em qual animal representaria uma possível transformação nesta fazenda humana. Aí, num louquejar desses quaisquer, veio-me à imagem a figura do leão. Sim, o leão que está descrito em Assim Falou Zarathustra como o destruidor de valores, o espírito de rebeldia, o eu quero; aquele que, se não consegue criar ainda, ao menos tem a capacidade de indignação, de revolta e abertura para a criança, para o novo, para abrir terreno para o além-do-homem.
É possível, hoje, existirem leões a sacudir o espírito humano e preparar o terreno para o novo? E qual novo seria este? Parece-me que falta o que desejar... E eu gostaria de acreditar nisso, mas tenho cá minhas dificuldades. Às vezes parece-me tão mais fácil ser ovelha e estar mais próximo à felicidade, que desenvolver as garras leoninas e não aceitar passivamente este estado de coisas que nos cercam... Divagações à parte, este é post 3 em 1: leia o livro, veja o filme e celebre o disco. Porque o homem inatamente deseja transcender, e Animals é um bom começo.
Namaste!
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sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Felicidade Canina
Estava eu a admirar a perfeição simétrica de um conjunto de formigas num dia desses sem grandes novidades quando me deparo com dois primos mamíferos em plena comunhão, e tirei a fotografia abaixo. Quem leu o meu post sobre a Felicidade como Princípio para uma Existência Débil pode entender, agora, de forma mais directa, visual e didáctica como a felicidade se encontra nas pequenas coisas do dia-a-dia, e naturalmente, reforçar a máxima: queres ser feliz? torna-te um cachorro!
Namaste!
Namaste!
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Intuição

Acredito que, para mim, que me proponho a transpor devaneios em palavras a tarefa é um pouco mais ingrata. Pois não só apenas os assuntos em si, mas como dividi-los de forma adequada para a realidade de um blog. O chá aqui servido não vem com o fundo da xícara em algum tubo pronto, com linguagem de videoclipe. Naturalmente, os textos ficam longos, o que diminui consideravelmente a possibilidade de leitura até o fim. Sim, o objetivo de transposição de pensamentos, por vezes confusos e complexos, em doses homeopáticas de chá, exige que se abandone, nem que seja brevemente, a pressa com a qual se está habituado nos dias de hoje.
O que me levou a pensar nisso é justamente um pensamento simples e intrigante, que sussurro aqui: um pensamento ocorre apenas quando quer, e não quando eu quero. É o que se encontra em Além do Bem e do Mal ou Prelúdio de uma Filosofia de Futuro, de Nietzsche, precisamente na página 32 (tradução de Márcio Pugliesi):
"Quando se fala da superstição dos lógicos não deixo nunca de insistir num pequeno fato que as pessoas que padecem desse mal não confessam senão através de imposição. É o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando 'eu' quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito 'eu' é determinante na conjugação do verbo 'pensar'. 'Algo' pensa, porém não é o mesmo que o antigo e ilustre 'eu', para dizê-lo em termos suaves, não é mais que uma hipótese, porém não, com certeza, uma certeza imediata."
Da primeira vez o que o li, causou-me surpresa e ao mesmo tempo apreensão. Quer dizer então que eu não penso, alguma coisa pensa? E que é impossível controlar meus pensamentos? Para alguns até é questão de sobrevivência que não se pense... De qualquer forma, o Cogito Ergo Sum de Descartes, e tudo que (ainda) representa na sociedade contemporânea, cai por terra com uma simples assertiva: não consigo predeterminar o que penso de forma a pensar exatamente aquilo que eu desejaria. Se alguém diz: não pensa em uma maça verde, a entidade que em nós gera aquilo que interpretamos como pensamento faz justamente o contrário! E pensa na tal maça verde! E depois fica com raiva, pois foi abduzido! Sim, este tipo de pensamento é enlouquecedor, pois diminui na essência a nossa auto-estima enquanto espécie.
No final, o canto que não silencia é mesmo onde principia a intuição? E suponho que não podemos determiná-la, em qualquer hipótese, mesmo que tentássemos com toda a nossa força. Se o homem conseguir entender suas limitações, ao invés de penso, cientificamente existo, ou ainda penso, mercadologicamente existo e parar de classificar em percentuais o que se convenciona chamar de utilização do cérebro, tentando em vão ser algo que não é, na tentativa inútil de resgatar a nossa suposta superioridade enquanto espécie, mais canções rimadas não brotariam espontaneamente de nossos pensamentos?
Namaste!
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sábado, 8 de setembro de 2007
A Esperança do Impávido Colosso

E eu louquejando aqui imagino um urubu verde no desfile oficial acenando ao molusco semi-analfabeto, e a patuléia comovida a aplaudir! Emocionante, não, meu moluscóide leitor?
Namaste!
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"A Esperança é um urubu pintado de verde."
Mário Quintana
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quinta-feira, 6 de setembro de 2007
O Milagre Brasileiro

Por isso, lembrei-me de uma das melhores poesias já escritas por Mário Quintana. Nela é possível ter uma dimensão exata do seu entendimento do ideal de milagre. É irônica, como são muitas das poesias de Quintana, o que para mim constitui um prazer adicional em lê-la.
Não seria possível e adequado também incluir uma frase em homenagem ao Impávido Colosso nas letras abaixo?
Namaste!
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Dos Milagres
Milagre não é dar vida ao corpo extinto
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditam nisso tudo!
Mário Quintana
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segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Das Interpretações que se Tornam as Coisas em Si

Um das idéias que ajudam a fazer pensar vou louquejar aqui: o quanto nos esquecemos que vivemos numa realidade de aparências, onde possíveis interpretações se tornam as coisas em si. Quando digo que um dia possui 24 horas, na verdade isso é uma interpretação possível para aquilo que defino como dia: a percepção do tempo em horas que se aproxima de um interpretável ciclo. Assim, a ciência chama o tempo que a Terra leva para fazer uma rotação completa sobre o seu eixo. Porém, este 24 horas da forma como o concebemos não corresponde em sua exatidão a 24 horas. No final, as contas não fecham! Precisamos ajustar a realidade para satisfazer nossos interesses. As cores são outro exemplo: o que vejo como verde, para um daltônico é vermelho. Para um outro animal, pode ser qualquer outra (idéia de) cor. Até o nome da coisa em si, verde e sua associação a uma determinada cor, é uma interpretação particular da nossa espécie sobre tal fenômeno. A matemática, e suas fantasias sobre a explicação de todas as coisas pelo número, é outro exemplo. Quando inventamos que o fatorial de zero é um, isso é o acomodamento conveniente para explicar uma deficiência em nossa interpretação possível do mundo pelo número.
Nada disso constitui, em essência, um conhecimento verdadeiro, somente um conhecimento possível. Alguém pode perguntar-se: existe um conhecimento verdadeiro? Ou a vida mesmo, e tudo que nos cerca, é uma interpretação conveniente daquilo que percebemos como real? Parece-me que para todas as coisas que existem não podemos alcançar a sua essência; supondo mesmo que exista tal essência. Até mesmo as palavras estão carregadas de interpretações e associações de modo que, ao nascer, o sujeito já ganha um mundo pronto, com verdades, regras e conceitos já pré-definidos e não raro é incapaz de perceber que este estado de coisas é apenas uma única interpretação possível que foi criada ao longo de séculos pelo homem.
Ao perceber que se vive numa realidade falsificada pelo homem, e que o questionamento e reinvenção de tudo que há não é apenas possível, como desejável, infinitas possibilidades a apimentar o chá são possíveis. Para muitos, viver com as pequenas verdades que lhe foram dadas é o suficiente; e dão o nome de crença à interpretação do mundo que acreditam ser real. E, para ser resistente, não pode ser contestada. As religiões são um câncer cuja origem é o medo da percepção que na realidade não há realidade, apenas interpretações de realidades. No cristianismo, duvidar é já pecar! Mas isso é assunto para outro louquejar...
Namaste!
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