De Masi classifica a nossa era como pós-industrial (ou digital), na qual o trabalho criativo é o único que triunfará, uma vez que praticamente todo trabalho manual já é, ou ainda será, realizado por máquinas ou computadores. Para exemplificar: a linha de montagem de um veículo, hoje, é realizada automaticamente, tendo alguns pouco profissionais supervisionando o processo. Em meados do século passado, uma linha de montagem exigia diversos trabalhadores braçais, cujo trabalho poderia ser realizado com a mesma eficiência por macacos, tamanho o nível de repetição e alienação que apertar parafusos, por exemplo, pode gerar.
Dentro desse quadro, no qual cada vez menos profissionais do tipo macaco são necessários, e com isso muitos tipos de trabalho tornam-se obsoletos, é que se encontra a justificativa econômica para o ócio criativo: uma empresa, ao estabelecer um novo processo que automatize a sua produção, terminará por não necessitar de todos os funcionários que dispõe. Quase que automaticamente, a eliminação do ser inútil profissionalmente torna-se um imperativo. Chamam isso de corte de pessoal, de modo que a empresa torne-se mais lucrativa e, dessa forma, consiga alimentar seus cães-acionistas cada vez mais e mais até o infinito da estupidez humana.
Uma outra opção é, ao invés de demitir, diminuir a carga horária, possibilitando - dessa forma - que todos possam fazer o mesmo trabalho, sobrando mais tempo livre para cada um: estaria aberta a janela para o porvir do ócio criativo! Afinal, justifica De Masi, o trabalho que se faz burocraticamente todos os dias nas empresas em 10 horas, poderia ser realizado em 5 com a mesma eficiência, e com a vantagem de ter pessoas mais motivadas e, portanto, criativas. Como suposição: se todo o trabalho que o cruel tipo homem necessite pudesse ser realizado por uma única pessoa, haveria duas opções: ou toda a população mundial estaria desempregada, ou o trabalho a ser realizado seria dividido de modo que todos pudessem contribuir e o mundo tornar-se-ia uma gigantesca teia de indivíduos condenados ao ócio criativo.

Apesar de pequenos exemplos em contrário, ainda hoje trabalha-se tal e qual se trabalhava na sociedade industrial, com os mesmíssimos valores que hoje são obsoletos, onde o sujeito possui horário de início e término, precisa bater ponto, tem de cumprir carga horária (por vezes, contados os minutos!), a dimensão pessoal e emocional ficam do lado de fora, a sua liberdade, subjetividade e criatividade são assassinadas por indivíduos doentes, os chamados workaholic. Esse termo, que significa alcoólatra do trabalho, caracteriza sujeitos que trabalham até altas horas, priorizam o trabalho acima de tudo, raramente tiram férias (e quando isso ocorre não sabem o que fazer!), criam burocracia para justificar procedimentos e sua alta carga horária, dedicam-se como escravos à empresa que no futuro lhe dispensará como um sapato usado, sem utilidade, e terminará sua vida bestial agonizando em frustração por ter vivido e se dedicado tanto a algo que possui, no mínimo, valores existenciais questionáveis.
Eu gostaria de ver o ócio prosperar, e talvez trabalhar assim, porém sei que não será possível. Talvez as gerações vindouras consigam tal proeza! Porque, em verdade, para que serve a evolução do tipo homem, soberano animal que subjugou seus pares e a própria natureza, produzindo avanços tecnológicos dos mais variados tipos e nas mais variadas áreas de conhecimento, se tal evolução não o liberta para viver com mais prazer e tempo livre para coisas mais importantes que o trabalho?
Do contrário, meu alter ego sorrateiramente prefere continuar a invejar os cachorros, que tão bem conhecem a felicidade...
Namaste!