sábado, 18 de outubro de 2008

A Bolsa, o Circuit Breaker e a Ciranda Financeira

Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar

O Anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou

Por isso dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora

Vamos dar volta e meia, volta e meia vamos dar

Estava eu navegando despreocupadamente na grande rede quando deparei-me com a notícia da queda dos papéis das Bolsas de Valores de todo o mundo. Numa economia globalizada, alguém espirra nos Estados Unidos e em pouco minutos ocorre uma gripe na Europa, seguida de pneumonia na Ásia. A economia impávido colossensse, sempre subserviente ao capital especulativo internacional, também sofre com os disparates dos cães-acionistas.

Há tempos que julgo patético e até um pouco divertido ver os operadores das bolsas de valores e seus respectivos representantes atônitos com as oscilações do mercado. Ora, o capital virtual que só existe no mundo fictício dos papéis das ações das grandes corporações é o bem mais precioso destes animais famintos por lucro acima de tudo. E, quando sua suposta riqueza está em crise, o que fazem? Correm feito cordeirinhos para investimentos mais seguros, como o ouro, por exemplo. Desta forma, deixando um grande buraco na economia, que por sua vez é freqüentemente coberto por porcos receosos de uma crise em escala global.

Chama-se circuit breaker o dispositivo que suspende o pregão quando as ações caem a um determinado patamar perigoso (algo como 10%). Assim, há um intervalo em geral de 30 minutos para que todos os interessados possam refletir sobre o que estão fazendo ali, questionarem-se sobre o sentido da vida etc., tentando aliviar a situação para um novo recomeço dos negócios em seguida. Na verdade, tal mecanismo evita a desgraça em níveis insustentáveis, tal como ocorreu em 1929, no famoso crash da bolsa estadunidense. Nessa oportunidade, a quebradeira foi geral, não houve ajuda do governo e muitos investidores suicidaram-se diante da perda total de seus preciosos recursos.

E, ao pensar em todo este estado de cousas, um louquejar ocorreu-me: o que ocorreria, pois, se o circuit breaker fosse eliminado das operações da Bolsa de Valores e, numa iminente repetição da crise de 1929, houvesse quebradeira, falência e suicídio de grandes investidores? O estrago seria grande, deduzo, mas a médio e longo prazo a tendência é que a economia global se recuperasse de forma mais sólida e não entrasse em colapso cada vez que uma grande corporação vai à falência. Tal catástrofe seria oportuna para uma reflexão em escala mundial sobre a importância e, especialmente, o poder das grandes corporações e suas ações no mundo globalizado que vivemos. Pode o cruel tipo homem viver sem o mercado de ações e sua fantasia de lucro fácil através de dinheiro virtual?

Porque, no final das contas, o dinheiro estatal que é usado para acalmar os descontrolados e sensíveis investidores é o dinheiro dos impostos que o monstro frio rouba diariamente daqueles que efetivamente criam algo. O estado, esta entidade que nada cria, e por isso tem de roubar (e dá o nome de imposto ao seu roubo), não deveria usar dinheiro público para socorrer grandes corporações ou investidores; ao contrário, deveria deixar a quebradeira correr solta, oferecendo na melhor das hipóteses ajuda funerária para aqueles que optarem por tal caminho, como em 1929. Lavando às mãos ao melhor estilo de Pilatos, ajudaria a eliminar o ideal de ganância a todo custo que se faz presente quase que instintivamente em todos os cães-acionistas que não tem a capacidade de ver e nem ser nada além do ideal especulativo de aumento de capital a todo custo.

Namaste!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Teatro Corporativo

Estava eu a observar a construção de um prédio localizado num centro comercial de uma capital Impávido Colossensse quando ao meu lado passou em alta velocidade um trabalhador de escritório. Tal pressa ocorre pois precisava concluir uma tarefa o quanto antes, imaginei. Foi então que comecei a observar mais atentamente o comportamento do tipo homem a trabalhar em escritórios dos mais variados tipos e percebi o quão intensa é a sua atuação como ator e o seu sofrimento.

A noção do que seja trabalho ainda está intimamente ligada ao conceito industrial do início do século XX. Um ambiente no qual se deve deixar do lado de fora as emoções, o riso, enfim, tudo aquilo que diz respeito ao prazer individual. Quantas vezes se ri num ambiente profissional? Quantas vezes saímos no meio do expediente, à tarde, para passear porque o dia está bonito demais para ficar trancado num ambiente onde não há vida? Tal postura seria um absurdo para os macaquinhos tomadores de café e babadores de barriga cheia após o almoço!

Expressões sérias e preocupadas, como se não houvesse nada além na vida do que satisfazer aos interesses de cães imundos e ajudá-los a aumentar seus lucros, são um indicativo de doença em estado avançado. Para muitos o teatro se faz necessário para representar que de fato estão preocupados com o que estão a fazer (quando, muitas vezes, estão a representar).

Não é por acaso que a chamada hora feliz (happy hour) é o momento de tempo imediatamente após o término do expediente: a felicidade reside em não estar no ambiente de trabalho! E por quê isso ocorre? Por quê ao gozar férias o tipo homem não raro viaja alucinadamente buscando conhecer tudo e todos, fazendo roteiros milimetricamente programados, com o objetivo de aproveitar ao máximo o medíocre percentual de menos de 10% de tempo realmente livre que a empresa lhe oferece anualmente (e freqüentemente apenas por imposição da lei)?

O ambiente de trabalho é concebido para que o sujeito não tenha prazer. Trabalho e diversão são, em geral, segundo o ideal de Ford, coisas que não se misturam: para tudo há o tempo certo, assim urra a besta industrial. O conceito de trabalho é semelhante ao conceito de culpa intimamente ligado ao estado doentil christão: o prazer está sempre no porvir, é necessário sofrer antes para obter o deleite posterior. Ora, tal visão trata-se da velha forma de dominação pela negação do prazer, coisa que os christãos conhecem tão bem.

Meu alter ego devaneia que um escritório ideal é aquele em que os símbolos da Sociedade Industrial seriam abolidos, como o cartão ponto, o controle de horas e, especialmente, a subserviência. Ao invés disso, a desconstrução do ideal de tempo e de controle de horas, sendo o indivíduo (e não funcionário - aquele que executa uma função) o senhor de suas ações, comprometido apenas em auxiliar na busca dos objetivos da empresa, ao mesmo tempo em que também é responsável pela definição de tais objetivos, dentro de sua visão global de mundo. Um indivíduo pleno, pensante e alegre, cujos interesses pessoais, profissionais e socias se confundem de tal sorte que a fronteira entre trabalho e prazer deixaria de existir...

Até tal realidade torna-se real, serão necessárias muitas horas felizes para compensar a quantidade absurda de horas infelizes que o medíocre tipo homem desperdiça diariamente, num lento e gradual suicídio.

Namaste!